Foto em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aparece com outras pessoas em torno de uma mesa apontando para um mapa-múndi foi tirada em visita ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 30 de maio, não em uma reunião de planejamento para uma retaliação militar aos Estados Unidos, como afirma um post publicado na rede social X.

Segundo o post investigado, a imagem seria um “registro exclusivo” de reunião na qual teria sido discutida uma ação militar caso o presidente Donald Trump cancele o visto de entrada nos EUA de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Uma busca reversa, no entanto, mostra que a foto foi publicada primeiro por Marcio Pochmann, presidente do IBGE.

Na foto, Lula e Pochmann apontam para locais do mapa ao lado dos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira. Os quatro estavam analisando o mapa-múndi invertido lançado em maio pelo IBGE como uma forma de colocar o Brasil e o hemisfério Sul no “centro do mundo”.

Na legenda, o presidente do IBGE afirmou que os presentes visualizaram o “destaque ao Sul Global identificado nos países latino-americanos com limítrofes no bioma Amazônico e pertencentes ao BRICS, Mercosul e Língua Portuguesa”.

Ao Comprova, a Secom informou que o conteúdo do post investigado é falso e confirmou que o verdadeiro contexto da foto é o descrito na publicação de Pochmann.

Autor do post defendeu tratamento não reconhecido para COVID-19


A publicação foi feita por uma conta associada ao médico infectologista Francisco Cardoso, conselheiro do Conselho Federal de Medicina (CFM) por São Paulo. No X, ele se define como “a favor da vida” e “Anti-Woke”. A postagem tinha 407 mil visualizações até a tarde desta sexta-feira (6).

Francisco ficou conhecido após depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (I) da Pandemia, no Senado, em junho de 2021, em que defendeu o uso de cloroquina e outros medicamentos do chamado “tratamento precoce” contra a covid-19. O tratamento não é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como eficaz contra a doença.

No perfil, Francisco compartilha diversas postagens sobre covid-19, além de críticas à Lula e à esquerda.

Procurado, o autor afirmou que a postagem “trata-se de uma piada, construída de forma evidentemente irônica, sem qualquer pretensão de relatar um fato verídico” e que utilizou recurso de hipérbole para gerar o engajamento. Ele ironizou a atuação do Comprova e, em uma tentativa de intimidação, expôs a repórter que o contatou.

Sem indicação


Embora o autor afirme que a publicação se trata de uma piada, o post não tem nenhuma indicação clara sobre isso. Comentários evidenciam que algumas pessoas acreditaram no conteúdo. Um exemplo são as menções ao Grok, inteligência artificial do X, para questionar se a informação era verdadeira.

Além disso, o autor utiliza um tema que tem muita repercussão na atualidade: o anúncio de que o governo dos EUA está revisando suas políticas de restrição a estrangeiros. A conexão com um fato real pode conferir credibilidade ao post.

As mudanças nas práticas norte-americanas foram mencionadas em maio pelo secretário de Estado Marco Rubio. Segundo ele, deve ser colocada em prática uma restrição aos vistos de “cidadãos estrangeiros responsáveis pela censura da expressão protegida nos EUA”.

Outra tática de persuasão utilizada na publicação é o uso da expressão “veja imagem exclusiva”, sugerindo que a foto fosse de um momento revelador e de bastidor. O autor do post também usa o verbo “prepara”, o que pode sugerir algo em andamento ou urgente.

Fontes que consultamos

Busca reversa de imagens no Google, contato com as assessorias de comunicação do IBGE, do Ministério da Defesa e da Secom e com o autor da postagem.

Por que o Comprova investigou essa publicação

O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

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