Junho marca o mês da conscientização sobre o lipedema, uma doença crônica, progressiva e ainda pouco conhecida, que atinge majoritariamente mulheres. Caracterizada pelo acúmulo anormal e doloroso de gordura subcutânea, principalmente nas pernas e, em alguns casos, nos braços, a condição é frequentemente confundida com obesidade ou linfedema ( acúmulo de linfa nos tecidos), o que dificulta o diagnóstico e o tratamento adequados.
Leia Mais
“O lipedema ainda é pouco reconhecido, mesmo entre profissionais da saúde, o que atrasa o diagnóstico e o início do tratamento. Conscientizar é fundamental para que mais mulheres possam identificar os sintomas, buscar ajuda especializada e evitar o avanço da doença”, destaca o médico Diego Torrico.
A campanha tem como objetivo informar a população e os profissionais de saúde sobre os sinais da doença, suas causas, formas de diagnóstico e opções de tratamento. “Os sintomas mais comuns incluem dor, sensibilidade ao toque, inchaço desproporcional e facilidade em formar hematomas. Como o lipedema não melhora com dieta ou exercícios físicos, muitas mulheres enfrentam anos de frustração até receberem um diagnóstico correto”, explica.
Impactos psicológicos: uma dor que vai além do físico
Segundo Torrico, por trás das queixas de dor, inchaço, hematomas frequentes e sensibilidade, existe também um histórico de sofrimento emocional. Muitas pacientes aram anos, ou até décadas, sendo invalidadas, ridicularizadas e culpabilizadas pelo próprio corpo.
“Muitas dessas mulheres foram vistas como ‘desleixadas’ ou ‘sem disciplina’, mesmo levando uma vida ativa, com alimentação controlada, exercícios regulares e, ainda assim, sem resultados nas áreas afetadas”, diz Torrico.
Essa invalidação constante gera impactos profundos na saúde mental. “O ciclo de dor crônica, com tentativas frustradas de emagrecimento e a dificuldade no reconhecimento da doença levam muitas pacientes a desenvolverem quadros de ansiedade, depressão, isolamento social, transtornos alimentares e queda na autoestima”, afirma o médico.
“Quando o próprio médico não acredita em você, você começa a duvidar de si mesma. O lipedema não afeta só o corpo. Ele adoece também a mente”, relata a paciente Valéria Mendes Magalhães, que descobriu a doença já no grau 3.
Por isso, o tratamento do lipedema precisa ser multidisciplinar, incluindo não só a abordagem clínica e física, mas também o acolhimento psicológico, que é essencial para resgatar a autoestima, restaurar a relação com o próprio corpo e lidar com os impactos emocionais da doença.
Junho é muito mais do que um mês de conscientização. É um movimento de resistência, de acolhimento e de empoderamento para todas as mulheres que carregaram, por muito tempo, a culpa de um corpo que nunca foi entendido — nem por elas, nem pelos profissionais que deveriam cuidar delas.