SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Francisco morreu nesta segunda-feira (21) sem fugir dos assuntos espinhosos. Embora muitas vezes de forma ambígua, posicionou-se sobre questões como a relação da Igreja com a comunidade LGBTQIA+ e o aborto. Defendeu a união civil gay e lançou a célebre questão "quem sou eu para julgar", mas condenou o casamento homossexual nos termos da Igreja, para ele um "ataque destrutivo aos planos de Deus". Em privado, usou expressões preconceituosas, como "um ar de viadagem" no Vaticano.

 


Também falou da própria saúde com franqueza, itindo ter crises de ansiedade, e opinou sobre assuntos da vida cotidiana, desde o uso do celular entre jovens até a saudade que sentia de ir comer pizza num restaurante. Saudade que declarou não sentir de sua Argentina natal, para onde nunca mais foi quando iniciou seu papado, em março de 2013.

Fã de futebol, tampouco se esquivou da polêmica. Entre Maradona e Messi, ficou com Pelé.

Relembre a seguir, por temas, frases marcantes do pontífice.

Aborto

 "Decidi, não havendo nenhuma disposição em contrário, conceder a todos os padres o arbítrio para absolver o pecado do aborto àqueles que o possuem e a quem, com o coração constrito, busca o perdão por isso" - Em setembro de 2015

 "Interromper uma gravidez é como eliminar alguém. É justo eliminar uma vida humana para resolver um problema? (...) É justo contratar um matador de aluguel para resolver um problema?" - Em outubro de 2018, durante homilia no Vaticano

LGBTs e casamento gay

 "É um ataque destrutivo aos planos de Deus" - Em 2010, ainda como cardeal, sobre a decisão do Senado da Argentina de aprovar o casamento gay

"Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la? (...) O catecismo da Igreja Católica explica isso muito bem. Diz que eles não devem ser discriminados por causa disso, mas integrados à sociedade" - Em julho de 2013, pouco depois de iniciar o pontificado

  

"O que temos de criar é uma lei de união civil. Assim, ficam legalmente protegidos. Posiciono-me a favor disso" - No documentário "sco", de 2020, sobre a união homossexual

"Seminários estão cheios de viadagem" - Em maio de 2024, durante encontro com bispos no Vaticano, segundo a mídia da Itália; o papa se desculpou depois, mas no mês seguinte voltou a usar a expressão, em reunião privada, dizendo haver "um ar de viadagem no Vaticano"

"Qualquer intervenção de mudança de sexo geralmente corre o risco de ameaçar a dignidade única que uma pessoa recebe no momento da concepção" - Documento aprovado por Francisco que condena o aborto, a transição de gênero e a barriga de aluguel

 Abusos na Igreja

 "Por favor, lembrem-se bem disto: tolerância zero com os abusos contra menores ou pessoas vulneráveis. Tolerância zero. Nós somos religiosos, somos sacerdotes para levar as pessoas a Jesus. Por favor, não escondam esta realidade" - Sobre casos de abuso sexual e pedofilia na Igreja, em 2022

 Cotidiano: fofoca, celular, futebol

 "A fofoca é uma praga pior do que a Covid" - Em setembro de 2020, durante a pandemia

"Fofoca é coisa de mulher" - Em maio de 2024, durante reunião privada com padres romanos, segundo a imprensa italiana

"Libertai-vos da dependência do celular! Por favor! (...) O telefone celular é uma droga [que] pode reduzir a comunicação a simples contatos" - Em abril de 2019, durante encontro com alunos de uma escola em Roma

 "Eu direi um terceiro: Pelé [...] Destes três, para mim, o maior é Pelé. Um homem de coração. Eu falei com Pelé, uma vez o encontrei em um avião quando estava em Buenos Aires. Nos falamos. Um homem de uma humanidade tão grande. Os três são grandes, mas cada um com sua especificidade" - Em entrevista à TV italiana RAI, em 2023, questionado sobre quem preferia entre Messi e Maradona

 

Cabe ao protodiácono fazer o anúncio oficial na sacada da basílica de São Pedro. Ele solta a famosa expressão “Habemus Papam!” (“Temos um Papa”). Reprodução do Youtube
Ao fim da votação, os cardeais despejam um produto químico na fumaça que sai da chaminé da capela. Caso seja preta, a votação segue. Se ela for branca, signfica que o novo Papa já foi escolhido. Vdp/Wikimédia Commons
Os cardeais devem escrever o nome do seu candidato em uma cédula e depositá-la na urna. Após o processo, as cédulas são queimadas. Reprodução do Youtube
Os 120 cardeais podem ser votados, porém não podem votar em si mesmos. Também é permitido votar em cardeais que estejam fora da assembleia. Ricardo Stuckert/PR/Agência Brasil
O número máximo de cardeais participantes do processo é 120, com idade máxima de 80 anos, e todos juram segredo sobre o processo. Reprodução do Youtube
As regras vigentes no conclave, como a composição do colégio eleitoral, foram definidas durante o pontificado de Paulo VI, em 21 de novembro de 1970. Reprodução do Youtube
A eleição acontece dentro da Capela Sistina, localizada no Palácio Apostólico, a residência oficial do Papa, no Vaticano. GNU/Wikimédia Commons
Os cardeais entram em conclave entre no mínimo 15 e no máximo 20 dias após a morte ou renúncia do Papa. Reprodução do Youtube
A palavra Conclave vem do latim “cum clavis”, que significa “fechado à chave”, o que dá a medida do sigilo com que é tratado o processo. currybet/Wikimédia Commons
Ele ocorre quando um papa morre - como na sucessão de João Paulo II para Bento XVI - ou renúncia - a exemplo da última mudança, com Bento XVI dando lugar a Francisco. Reprodução do Youtube
O conclave para escolher um novo Papa é um dos processos mais antigos, rígidos e secretos do mundo. Ele acontece desde o século 13. Domínio Público/Wikimédia Commons
O filme concorre ainda nas categorias Roteiro Adaptado, Figurino, Trilha Sonora, Direção de Arte, Montagem, Melhor Ator (Ralph Fiennes) e Melhor Atriz Coadjuvante (Isabella Rossellini). Youtube/ Greghulme
Ele concorre na mesma categoria em que está “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles. O filme brasileiro também foi indicado a Melhor Filme Estrangeiro. Divulgação
“Conclave” é um dos candidatos a Melhor Filme na 97ª edição do Oscar, cuja cerimônia acontece no dia 2 de março, no Dolby Theatre, em Los Angeles, na Califórnia. Divulgação
O elenco de “Conclave” tem ainda Stanley Tucci (“Um Olhar do Paraíso”), Isabella Rossellini (“Veludo Azul”), John Lithgow (“Dexter”) e Sergio Castellito (“Não se Mova”). Reprodução
Os bastidores da disputa, com conversas nos corredores do Vaticano e as articulações políticas na disputa de poder, são o cerne do filme, aliando mistério e tradição, em uma espécie de thriller eclesiástico. Divulgação
À frente do confidencial processo eleitoral com mais de cem cardeais do mundo todo, Lawrence se envolve em uma conspiração que ameaça abalar sua fé e as bases da Igreja. Divulgação
Na trama, o cardel Lawrence, vivido por Ralph Fiennes (“O Jardineiro Fiel” e “O Paciente Inglês”), é quem conduz o conclave para a escolha do novo pontífice após a morte súbita do então líder mundial da Igreja Católica. Divulgação
Com direção de Edward Berger (“Nada de Novo no Front”, de 2022), o longa-metragem é uma adaptação de best-seller homônimo escrito por Robert Harris, lançado em 2016. Divulgação
Com oito indicações ao Oscar 2025, o filme “Conclave”, que retrata o processo de escolha de um Papa, é uma das produções mais aclamadas da atualidade. divulgação

 "Sair para comer uma pizza é uma das pequenas coisas de que sinto falta. Uma pizza comida em uma mesa tem um sabor bem diferente de uma pizza entregue em domicílio" - Em sua autobiografia, "Esperança", lançada em 2024

 Saúde, vida e morte

 "Às nossas neuroses devemos oferecer um chimarrão. Devemos acariciá-las. Acompanham a pessoa pela vida toda" - Em entrevista ao jornalista argentino Nelson Castro, para o livro "La Salud de los Papas" (a saúde dos papas, em espanhol), publicado em 2021

 "Também nasci numa família de migrantes. Eu também poderia estar entre os descartados de hoje, tanto que sempre trago uma pergunta: por que eles e não eu?" - Sobre sua visita à ilha italiana de Lampedusa, que recebe centenas de migrantes em travessias de barco, na autobiografia "Esperança" (2024)

 "[Morrerei] Como papa, em atividade ou emérito. Em Roma. Para a Argentina, não volto mais, não tenho saudades dela. Vivi lá 76 anos. O que me aflige são seus problemas" - Em entrevista ao jornalista argentino Nelson Castro, para o livro "La Salud de los Papas" (a saúde dos papas, em espanhol), publicado em 2021

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