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REFÉNS

Brasileiros vítimas de tráfico humano em Mianmar fogem após três meses presos

Segundo familiares, eles foram capturados entre outubro e novembro após aceitarem supostas propostas promissoras de emprego na Ásia

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SÃO PAUL, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Após mais de três meses mantidos reféns como vítimas de tráfico humano em Mianmar, os brasileiros Luckas Viana dos Santos, 31, e Phelipe de Moura Ferreira, 26, fugiram e foram resgatados no país asiático, segundo familiares.

Os dois escaparam no último sábado (8) e foram encontrados na segunda-feira (10) por um grupo armado. Segundo familiares, eles conseguiram fugir do local onde eram mantidos reféns junto a um grupo de centenas de estrangeiros, também vítimas de tráfico humano em Mianmar.

Após a fuga, eles foram encontrados e detidos por agentes do DKBA (Exército Democrático Karen Budista). O grupo armado é composto por rebeldes dissidentes das Forças Armadas de Mianmar. O país vive sob regime ditatorial militar há quatro anos e é dominado por milícias pró e contra o governo.

Em mensagens enviadas no sábado de um número desconhecido, Phelipe informou ao pai, Antonio Carlos Ferreira, que tentariam fugir. "Vamos tentar daqui a pouco. (...) Se acontecer algo comigo saiba que eu tentei ao máximo", escreveu.

Os brasileiros conseguiram se comunicar com seus familiares da prisão, de onde ainda aguardam transferência à Tailândia com o auxílio de uma organização civil internacional de combate ao tráfico humano. A The Exodus Road confirmou a fuga dos brasileiros e de outros 368 estrangeiros de 21 países.

"Estou me sentindo o homem mais feliz do mundo. Eu pensei que não ia mais conseguir ver meu filho, mas graças a Deus e a ajuda da ONG, conseguimos", disse o pai de Phelipe.

"A gente está muito feliz, mas preocupados ainda. Já sabíamos da fuga, só que soubemos hoje que foram presos por alguma milícia em Mianmar, e o DKBA pegou eles. Agora, é outra etapa, mas eles ainda correm risco porque, como foi fuga, a máfia ainda pode estar procurando eles", afirma Ana Paula, prima de Lucka.

Segundo uma porta-voz da Exodus, que há cerca de três meses acompanha o caso dos brasileiros, o Exército Democrático Karen Budista segue "resgatando e verificando" mais de 120 estrangeiros que fugiram do local onde eram mantidos reféns junto aos brasileiros.

"Ao todo, espera-se que 170 vítimas sejam libertas e enviadas para a Tailândia, possivelmente até amanhã (12)", diz Cintia Meirelles.

Segundo as famílias, o resgate não teve apoio do Ministério das Relações Exteriores e nem da embaixada brasileira.

"O mérito [do resgate] foi todo da ONG [Exodus]. A embaixada [brasileira] só ficou aguardando a boa vontade das autoridades de Mianmar, que não iam fazer nada. Já sabiam onde eles estavam e tinham que ter pressionado mais, mas não fizeram. Quem pressionou foi a ONG", afirma o pai de Phelipe.

Segundo a porta-voz da Exodus no Brasil, a entidade, enquanto sociedade civil, solicitou ao governo tailandês que um acordo fosse firmado com autoridades de Mianmar para a libertação dos brasileiros e outras centenas de reféns.

"Após essa pressão, foi feito um acordo no qual as 371 vítimas que apresentamos fossem libertas, incluindo Luckas e Phelipe", diz.

"Desde sábado, tentamos contato com a embaixada do Brasil para falar da fuga e pedir ajuda deles para acionar as autoridades locais, mas não responderam. Ligamos para o Ministério das Relações Exteriores e falaram que não podiam fazer nada. Só hoje [11], entraram em contato comigo para dizer que tinham novidades sobre o meu filho, depois que eu já tinha recebido a notícia da ONG [Exodus], que desde ontem está acompanhando o meu filho e o Luckas lá", disse o pai de Phelipe.

Segundo Antonio e Ana Paula, Luckas e Phelipe serão mantidos presos na Tailândia até terem o aos seus aportes e o dinheiro das agens para voltar ao Brasil, o que só seria possível com a ajuda do Ministério das Relações Exteriores brasileiro.

O Itamaraty diz que "tomou conhecimento, com grande satisfação" da liberação dos dois, mas não informou se vai apoiar a repatriação. Segundo o órgão, o Brasil lutou pela libertação desde outubro, e a embaixadora Maria Laura da Rocha "reforçou a necessidade de esforços contínuos para localizá-los e resgatá-los".

O Ministério das Relações Exteriores alerta para riscos de tráfico humano em ofertas de trabalho por plataformas digitais da Ásia. A pasta indica guias on-line sobre o tema e os perigos específicos das ofertas de emprego no Sudeste Asiático.

Luckas e Phelipe se tornaram vítimas de tráfico humano em Mianmar entre outubro e novembro, após aceitarem supostas propostas promissoras de emprego na Tailândia.

Eles ficaram presos em uma fábrica em Myawaddy, onde eram forçados a trabalhar 15 horas por dia. Sob ameaças e tortura, eles eram forçados a aplicar golpes digitais em pessoas de outros países.

"Meu filho está com o corpo todo machucado de pancadas e choques, de tudo o que fizeram com ele lá, e não só com ele, mas com muitas pessoas de todas as partes do mundo. Agora, o mundo tem que olhar para Mianmar e intervir nessa rede de tráfico humano", afirmou Antonio Carlos Ferreira, pai de Phelipe.

Os familiares de Luckas e Phelipe afirmaram que autoridades brasileiras davam apenas retornos protocolares e vagos. Procurado uma primeira vez pela reportagem com pedidos de esclarecimentos sobre o caso de Luckas, o Itamaraty afirmou apenas que "por meio das Embaixadas do Brasil em Bangkok e em Yangon, acompanha o caso, está em contato com as autoridades locais competentes e presta assistência consular aos familiares do brasileiro".

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Após repercussão da história, Itamaraty informou que acionou autoridades locais. "Ao longo das últimas semanas, foram realizadas diversas gestões junto ao governo de Mianmar, com vistas a localizar e resgatar os brasileiros -operação que compete às autoridades policiais locais", afirmou a pasta em nota enviada em janeiro.

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