Após mês crítico, internação de adultos é foco de atenção
Com mais de 107 mil atendimentos em maio e forte alta de casos graves entre pessoas de 20 a 59 anos, BH aposta na vacinação para conter pressão das viroses
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Siga noBelo Horizonte viveu, em maio, o mês mais crítico do ano — até então — no atendimento a pacientes com doenças respiratórias. A cidade registrou um salto de 41,4% nas internações hospitalares em apenas 15 dias, saindo de 625 para 884 registros, segundo dados do de Doenças Respiratórias da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). A pressão sobre o sistema de saúde da capital atingiu um dos pontos mais altos da atual temporada de circulação viral, com mais de 107 mil atendimentos realizados nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e centros de saúde.
Em maio, as unidades de saúde da capital atenderam quase 60% mais pessoas com queixas respiratórias em relação a abril. No quarto mês do ano, foram 67.180 atendimentos, conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde de BH. A previsão é de que a pressão sobre o sistema de saúde deve começar a ceder no fim deste mês, quando os esforços para ampliar a vacinação e as temperaturas mais amenas devem deixar de favorecer a proliferação dos principais vírus respiratórios.
Se, inicialmente, as atenções se direcionavam ao público infantil, agora o alerta se volta para os adultos. A escalada das internações nesse público, conforme indicado em coletiva de imprensa na semana ada pelo secretário municipal de Saúde, Danilo Borges, é hoje um dos principais pontos de atenção. Em 15 dias, as hospitalizações de adultos entre 20 e 59 anos aumentaram 45,5%, ando de 101 casos, registrados entre 1º e 15 de maio, para 147 entre os dias 16 e 31. Quando se observa o acumulado de abril para maio, a alta é de 36,2%, saindo de 182 hospitalizações para 248 no intervalo de um mês.
De janeiro até o fim de maio, Belo Horizonte contabilizou 5.344 solicitações de internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), quadro que envolve infecções virais, bacterianas ou fúngicas agudas capazes de comprometer a função respiratória. Dessas ocorrências, 235 resultaram em morte, sendo que quase 15% atingiram adultos entre 20 e 59 anos, conforme dados da SES-MG. “Os dados que a gente acompanha diariamente nos mostram que BH já atingiu o pico, mas a gente ainda precisa esclarecer, porque há uma diferenciação entre o público infantil e o público adulto. Ainda estamos preocupados com o alto índice de internações do público adulto”, reforçou Borges, em coletiva na última quarta-feira (28/5), sinalizando que, embora a situação pediátrica comece a se estabilizar, o quadro entre os adultos permanece preocupante.
OS MAIS VULNERÁVEIS
Ainda assim, os extremos etários continuam sendo os mais vulneráveis à SRAG. Crianças pequenas ainda estão desenvolvendo o sistema imunológico e podem piorar rapidamente. Já os idosos têm menor capacidade de resposta imunológica, o que favorece complicações. Em maio, os bebês menores de um ano apresentaram um salto de 47,2% nas internações, enquanto os idosos registraram um preocupante aumento de 84,9%. A maioria dos casos envolve quadros de SRAG causados principalmente por vírus como o sincicial respiratório (VSR), influenza A e o rinovírus. Até o momento, a capital registrou 11 mortes de crianças entre 1 e 9 anos por SRAG, além de 187 óbitos de idosos.
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Em coletiva de imprensa realizada em 15 de maio, Borges já antecipava o cenário que se consolidaria nas semanas seguintes. “Daqui a três semanas, UPAs e hospitais estarão mais vazios. A situação está sob controle, mas a gente ainda está em alerta. Não é momento de baixar a guarda e de deixar de lado nenhuma das estratégias, seja a vacinação, seja o reforço das equipes nas nossas unidades de saúde”, disse o secretário, que ainda destacou que esse é um "surto sazonal e esperado".
Embora as autoridades indiquem sinais de arrefecimento, Belo Horizonte figura entre as 19 capitais brasileiras que, segundo o mais recente boletim InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apresentam tendência de crescimento de casos no longo prazo e mantém nível de atividade da SRAG classificado entre “alerta”, “risco” ou “alto risco”. Todo o território mineiro também permanece sob alerta de alto risco para SRAG.
O relatório, divulgado em 29 de maio, aponta uma tendência de crescimento sustentado das infecções, puxada especialmente pelo vírus Influenza A e pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR). Este último responde por mais da metade dos casos de SRAG no estado (50,7%) entre os dias 18 de abril e 25 de maio, afetando majoritariamente crianças de até 4 anos. A Influenza A aparece logo em seguida, responsável por 36,5% dos casos. Completam a lista: rinovírus (14,7%), o Sars-CoV-2, causador da COVID-19 (2,1%), e a Influenza B (0,9%).
CENÁRIO EM MINAS
Em Minas Gerais, de janeiro a maio, foram registrados mais de 100 mil atendimentos por infecções respiratórias nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) da rede estadual. Desse total, mais de 25 mil envolveram crianças menores de um ano e idosos acima de 60 anos. O mesmo padrão se repete nas internações: só em maio, o estado somou 12.834 hospitalizações por doenças respiratórias, das quais quase metade (6.406) foram de idosos e 2.068 de bebês com até um ano. Até o momento, Minas contabiliza 726 mortes associadas a doenças respiratórias agudas em 2025, sendo que 18% ocorreram entre adultos de 20 a 59 anos.
O agravamento do cenário levou 28 municípios mineiros a decretarem estado de emergência em saúde pública, entre eles BH. O mais recente foi Itatiaiuçu, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, que acionou o recurso na terça-feira (3/6). Ainda em maio, o governo de Minas anunciou a antecipação de R$ 8 milhões em rees estaduais destinados às cidades que decretaram situação de emergência.
Na semana ada, um recém-nascido de apenas um mês morreu enquanto aguardava consulta na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Norte de Betim, também na Região Metropolitana. Ao todo, as SRAGs provocaram, em 2025, a morte de 50 crianças de até 9 anos no estado, segundo o mais recente boletim do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da SES-MG, atualizado ontem. O número equivale a quase 40% das mortes infantis por SRAG em todo o ano de 2024, quando 140 crianças dessa faixa etária perderam a vida.
Anteontem, a SES-MG reforçou o alerta para que a população busque atendimento médico imediato diante do agravamento de sintomas respiratórios. “Em casos de febre alta, dificuldade para respirar, coloração arroxeada nos lábios ou extremidades, tosse com catarro espesso, confusão mental, prostração ou saturação de oxigênio abaixo de 94%, a recomendação é procurar uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) ou hospital o quanto antes”, alertou o subsecretário de Vigilância em Saúde da SES-MG, Eduardo Prosdocimi, em comunicado oficial.
DESAFIO DA VACINAÇÃO
A vacinação é considerada a principal barreira contra o avanço dos quadros graves de doenças respiratórias. Como resposta à piora nos indicadores, a campanha contra a gripe foi ampliada para toda a população acima de seis meses de idade. No entanto, a adesão segue aquém do esperado. Até 29 de maio, a cobertura vacinal contra a gripe, um dos principais vírus responsáveis pelo aumento dos casos de doenças respiratórias no estado, não ava de 38,66% do público-alvo (crianças pequenas, idosos e gestantes), percentual bem distante da meta de 90% estipulada pelo Ministério da Saúde. Em números absolutos, menos da metade dos quase 5,5 milhões de mineiros aptos à imunização procuraram pela vacina, que desde o ano ado integra o calendário anual e está disponível o ano todo.
Em Belo Horizonte, a campanha, iniciada em 31 de março, foi reforçada com mais postos e oferta do imunizante em todos os 153 centros de saúde da cidade, além de sete unidades extras. Para ampliar o alcance, novas frentes foram abertas nesta semana: um posto no Minas Shopping, que funcionará até amanhã (6/6), outro inaugurado hoje (5/6) na Estação Lagoinha do Metrô BH, e um terceiro, no Shopping Oiapoque, que fica na Avenida Oiapoque, 156 – Centro, onde as aplicações serão feitas das 9h às 16h, no estacionamento G2. No último sábado (31/5), mais de 6 mil pessoas foram vacinadas em postos extramuros organizados pela PBH. Até o momento, a cobertura vacinal na capital alcançou 42,4% do público-alvo.
Até o momento, foram aplicadas mais de 728 mil doses da vacina contra a gripe na capital mineira. Desse total, cerca de 328 mil foram istradas nos grupos definidos pelo Ministério da Saúde para o cálculo da cobertura vacinal: crianças de 6 meses a 5 anos, 11 meses e 29 dias (34%), idosos com 60 anos ou mais (56,6%) e gestantes (24,7%). Belo Horizonte alcançou 51,2% de cobertura, sendo que a meta é de 90%. O imunizante protege contra vírus influenza A (H1N1 e H3N2) e influenza B.
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O avanço das doenças respiratórias acende o alerta para os riscos provocados pela queda na adesão vacinal e pela falsa sensação de segurança frente a doenças muitas vezes consideradas brandas, adverte o infectologista Leandro Curi. A orientação do especialista, endossada pelo alerta da SES-MG, resgata as mesmas recomendações adotadas no auge da pandemia: distanciamento e uso de máscara. “Hoje já não é possível diferenciar essas doenças apenas pelos sintomas. É preciso reforçar os cuidados, manter as medidas de isolamento e usar máscara. Aprendemos sobre a eficácia da máscara durante a pandemia, e ela continua sendo uma forma eficaz de barrar a transmissão de doenças respiratórias em geral”, destaca Curi.
Atendimentos realizados em centros de saúde e UPAs de Belo Horizonte relacionados a doenças respiratórias
l Janeiro – 41.337
l Fevereiro – 40.233
l Março – 42.574
l Abril – 67.180
l Maio – 107.198
SINAIS DE PERIGO
l Febre alta
l Dificuldade para respirar,
l Coloração arroxeada nos lábios ou extremidades
l Tosse com catarro espesso
l Confusão mental
l Prostração
l Saturação de oxigênio abaixo de 94%
FIQUE ATENTO
l Se surgirem os sintomas acima, a recomendação é procurar uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) ou hospital o quanto antes. Crianças pequenas ainda estão desenvolvendo o sistema imunológico e podem piorar rapidamente. Já os idosos têm menor capacidade de resposta imunológica, o que favorece complicações. Por isso, em ambos os casos, a orientação é redobrar os cuidados.
PREVINA-SE
l Com a chegada das épocas mais frias, a vacinação se destaca como uma das estratégias mais eficazes de proteção
l Lave as mãos frequentemente
l Use máscaras caso apresente sintomais gripais
l Mantenha os ambientes arejados
l Evite aglomerações e o contato com pessoas doentes
Fonte: PBH e SES-MG