INSS: na busca por seus direitos, muitas histórias na fila dos aposentados
Agência central dos Correios em BH ou a receber aposentados e pensionistas que desejam consultar se tiveram descontos indevidos de associações
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Siga noSacrifício, sono, revolta, preocupação, ansiedade e até descontração. Esses são os sentimentos de quem estava na fila dos aposentados, na manhã desta quarta-feira (4/6), na agência central dos Correios, no Centro de Belo Horizonte. Todos estavam ali para verificar se foram vítimas dos descontos indevidos do INSS no pagamento das aposentadorias.
Osvaldo de Oliveira, de 80 anos, foi o primeiro a chegar, ainda de madrugada, às 4h. “Sempre que acontecem coisas como essas, de roubar os aposentados, tem fila. Por isso, resolvi chegar cedo para ser um dos primeiros a ser atendido”.
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Demorou um pouco para que tivesse companhia. As outras pessoas começaram a chegar por volta de 5h. Meia hora depois, havia oito pessoas na fila. Pouco a pouco, a fila foi aumentando. Às 7h30 eram 17 pessoas. Às 8h, 28. A partir daí, a fila cresceu rapidamente e, às 8h30, havia mais de 50 pessoas, alcançando a entrada principal da Prefeitura de BH.
Um sentimento comum em todas as pessoas: a revolta. Todos, sem exceção, xingavam o governo federal e os últimos presidentes, além do atual. “É um absurdo, não o que fazem com o aposentado, mas com todo o povo brasileiro”, dizia José Gregório Silva, de 78 anos. “E ainda por cima, o atendimento começa tarde". A porta de entrada dos Correios só foi aberta às 9h.
Vítimas de um mesmo crime, as pessoas pareciam se conhecer há muito tempo e acabavam embalando conversas. Porém, um mineiro, Sílvio Pereira, de 62 anos, que hoje vive na Bahia, em Nova Viçosa, começou a se destacar: é um contador de histórias.
Começou dizendo que sua mãe era política no interior e que ela fez com que ele se aposentasse aos 33 anos. Depois, disparou, contanto potoca, que era um homem de várias mulheres. “Fui para a Bahia porque conheci uma mulher que me chamou para morar com ela. Ainda me deu um carro”.
Hoje, ele diz ser dono de uma barraca de praia e falou, ainda, que essa era a sua oitava mulher. Acabou se transformando na atração da fila, pois todos queriam ouvir seus casos.
Antes da abertura das portas dos Correios, surge um advogado, distribuídos seus cartões de contato, oferecendo serviços aos aposentados, caso queriam entrar com uma ação contra o INSS.
Histórias
Dramas pessoais começam a vir à tona. Roselamir Marques Gonçalves, de 64 anos, disse que estava ali para guardar lugar para a irmã, Rosemeire Gonçalves Miccrone, de 67, que tem problemas nas pernas e que não pode ficar muito tempo de pé.
Perto de 8h30 surge um senhor, Franrlei de Oliveira, Timóteo, de 65 anos, que andava com muita dificuldade, amparado por uma bengala. Algumas pessoas se comoveram e o levaram para o início da fila.
Franrlei se emocionou e dizia estar grato. Sua mulher estava guardando lugar para ele na fila, mas estava muito longe e as chances dele resistir de pé, por muito tempo, eram remotas.
Levado para o primeiro lugar da fila, acabou contando sua história. Ele foi vítima de um acidente automobilístico em 1980, pertinho dos Correios, no cruzamento das avenidas Álvares Cabral com Augusto de Lima.
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“Eu fui dado como morto. As pessoas que ali estavam me retiraram do carro e me cobriram com jornal. Eu não falava nada. Chegou um rabecão da Polícia Civil e me colocaram lá dentro, me levando para o Instituto Médico Legal (IML), de maca. Aquela que carrega defuntos”, contou.
Mas como ele estava ali, vivo? É o que todos queriam saber. Ele explicou que foi salvo por seu pai, que foi ao IML e percebeu, ao tocar o pulso do filho, que ele estava vivo. Foi levado para o Hospital do Pronto Socorro. “Estou vivo”.
Nesse instante, a um senhor, José Agripino Sorrente, que deseja sorte a todos. “Espero que todos vocês consigam recuperar seu dinheiro, roubado. Ano que vem, vou estar aposentado e só rezo para que esses roubos terminem”. Diz e segue seu caminho.
A porta dos Correios é aberta e todos começam a entrar. Vão até uma funcionária, que distribui senhas. “Aqui não preciso me preocupar, pois todos são preferenciais”.
A primeira informação era de que seriam cinco atendentes para os aposentados. Mas apenas dois estavam disponíveis. Os demais que lá estavam faziam serviço tradicional dos Correios, mas como havia apenas um cliente, ficaram de mãos abanando, o que gerou reclamações.
Aos poucos, o número de atendentes foi aumentando. Meia hora depois da abertura, eram três, pouco depois, quatro. Um a um os aposentados eram chamados.
Nos primeiros 10 atendimentos, somente uma pessoa, um homem, teve descontos no seu pagamento. Seu atendimento foi mais demorado. Os demais não tiveram e o atendimento foi rápido.
Mas nem sempre tais atendimentos foram tranquilos como na manhã desta quarta. Segundo relato dos funcionários dos Correios, nos dois dias anteriores houve tumulto. “Havia um aposentado estressado, que não se conformou ao saber que não tinha tido desconto por associação ou sindicato. Ele insistia que tinha dinheiro a receber”, conta um funcionário, que pediu para não ser identificado.
E assim a manhã segue, com o salão de entrada dos Correios cheio de aposentados, que queriam saber se tinham ou não sido “roubados”.
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