LITERATURA

Marcelo Rubens Paiva fala sobre masculinidade e machismo

Escritor de 66 anos lança o biográfico "O novo agora" e ite ter "uma masculinidade bastante comprometida com a sociedade machista e preconceituosa da época"

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Não poderia haver um nome mais adequado para o mais recente livro de Marcelo Rubens Paiva. Depois do estrondoso sucesso da adaptação de “Ainda estou aqui” para o cinema – que deu ao Brasil seu primeiro Oscar e rendeu ao autor uma nova edição do livro –, o escritor e dramaturgo paulistano lança “O novo agora”.


Mas esse "novo agora" começou muito antes. Mais precisamente, em 15 de janeiro de 2014, com o nascimento de Joaquim, seu primeiro filho com a filósofa e figurinista Silvia Feola.


Mantendo o foco narrativo de “Feliz ano velho” e “Ainda estou aqui”, Marcelo lida com o tempo de forma singular, embaralhando ado e presente. Da mesma forma, entrelaça sua história pessoal com a conjuntura política do Brasil.


“Costumo ser esse autor que faz uma espécie de caracol na narrativa. Vai e volta, vai e volta…”, afirma o escritor, em entrevista por telefone.


Influências

Muito isso, segundo ele, vem da influência da literatura brasileira, principalmente das obras de Guimarães Rosa, Oswald de Andrade e do bruxo do Cosme Velho, Machado de Assis.


“O novo agora” começa com os detalhes do nascimento de Joaquim: as dores das contrações da então esposa, a agonia do pai de primeira viagem diante do sofrimento da companheira, a viagem arrastada ao hospital e a demora para que o bebê se encaixasse na posição correta para um parto humanizado.


Essa cena prenuncia uma nova fase na vida do autor – não por causa dos filhos, cumpre dizer; mas pelos rumos que a política brasileira tomaria a partir dali.


Joaquim só veio ao mundo por causa de um encontro fortuito do escritor com a filósofa, num bar, quatro anos antes. À primeira vista, uma conversa pouco promissora. Marcelo chamava Aristóteles de chato, enquanto a moça era apaixonada pelo autor da “Ética” e da “Poética”.


Constrangimentos à parte, o flerte persistiu e deu certo. Marcelo e “Mãe” – como ele chama a ex-companheira no livro – se casaram e foram morar juntos. Compartilhavam gostos musicais e literários e viviam bem como casal. Em 2014, com a chegada de Joaquim, a vida que parecia encaminhada começou a ser atravessada pelas turbulências da conjuntura política e social do país.


Os desdobramentos da Operação Lava Jato e, sobretudo, o impeachment de Dilma Rousseff desencadearam uma polarização profunda – não só política, mas também social e cultural, dividindo famílias, amigos e a sociedade como um todo.


O ódio destilado nas redes sociais transbordou para a vida real, a ponto de Marcelo, em 2015, ser expulso (e quase agredido fisicamente) de uma mesa na Flip, com Xico Sá, Gregório Duvivier e Maria Ribeiro, aos gritos de “machista”.


“Tem gente que costuma me perseguir há muitos anos. Invadem minhas redes sociais e ficam buscando contradições na minha literatura, ando uma peneira em tudo que escrevi”, diz ele.


Nascido em 1959, o autor ite ter “uma masculinidade bastante comprometida com a sociedade machista e preconceituosa da época”. “Então, certamente, vão encontrar contradições na minha literatura”, acrescenta.


Tais contradições estão mais presentes em “Feliz ano velho”, é verdade. Contudo, “O novo agora” surge como redenção não planejada. Aos 66 anos – completados em 1º de maio –, Marcelo se expõe sem pudores, mostrando-se mais sensível e maduro do que o jovem escritor de 22 anos que estreou na literatura.


Segundo filho

“São os filhos que fazem a gente mudar”, diz ele. Depois de Joaquim, veio Sebastião, em 2018. O caçula chegou junto de mais uma tempestade política: a eleição de Jair Bolsonaro, desafeto público do escritor, que desmantelou o setor cultural durante seu governo.


Marcelo Rubens Paiva se viu num beco sem saída. Ele, que também é dramaturgo, percebeu que muitos projetos que levavam seu nome não eram aprovados em editais do governo federal. Perseguição política? Ele acredita que sim.


Para piorar, “Mãe” pediu o divórcio, cansada das constantes viagens do escritor para eventos literários.


“O novo agora”, no entanto, não é um livro de lamúrias. É nas adversidades que o escritor demonstra seu amadurecimento. Faz um mea-culpa sobre seu comportamento como marido, questiona se está acertando na criação dos filhos e, sobretudo, revela amor incondicional pelos meninos, que moram com ele desde a separação.


Verdadeiro “pai babão”, conta os sucessos dos filhos na escola, no futebol e entre os amigos. Até um penteado diferente do caçula vira motivo de orgulho em relatos que se inserem num contexto maior, longe de elogios gratuitos e desinteressantes ao leitor.


Ao narrar a própria vida e a de seus filhos, Marcelo Rubens Paiva constrói um retrato sensível, sincero e comum a muita gente: a convivência com perdas, adaptações e renascimentos.


A existência que descreve se resume no trecho que fecha o livro: “Ganharam cicatrizes, traumas, cruzamos transtornos. Conquistaram tolerâncias e manias, virtudes e defeitos. Consegui. Conseguimos. Acho que foi assim que tudo aconteceu”.


“O NOVO AGORA”
• Marcelo Rubens Paiva
• Alfaguara (272 págs.)

• R$ 79,90

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