Por Alexia Diniz

No dia 16 de junho, o Banco Central libera o Pix Automático. Uma função que, veja só, permite programar pagamentos recorrentes direto da conta bancária, sem depender de boleto, cartão de crédito ou da sua memória de peixinho dourado. Parece algo simples, mas no Brasil, a simplicidade no sistema financeiro costuma chegar com uns bons anos de atraso e um marketing bem empolgado.

A ideia é boa: pagar contas como escola, academia, energia, ou aquele streaming que você jura que vai cancelar, mas nunca cancela, sem precisar lembrar da data. Você autoriza uma vez e o pagamento se repete, bonitinho, todo mês. Tudo isso com a promessa de mais controle, menos taxas e menos dor de cabeça.

Mas calma lá com o entusiasmo, não descobrimos nada de novo

Pix Automático não é revolução, nem milagre. É o mínimo que um sistema bancário deveria oferecer há pelo menos uma década. A novidade só parece inovadora porque estamos acostumados a pagar caro pelo básico. Cartões de crédito cobrando taxas abusivas, maquininhas comendo o lucro de pequenos negócios, e bancos se esbaldando com a nossa distração.

Enquanto isso, a galera que não tem cartão (cerca de 60 milhões de brasileiros, segundo o Presidente do Bacen) até hoje precisa ficar pegando cartão emprestado pra cadastrar na netflix ou na mensalidade da academia. 

Agora, com o Pix Automático, essas pessoas poderão uma plataforma, pagar a van da escola ou manter a academia em dia sem precisar pedir favor pra ninguém. Que progresso, hein?

Como funciona o Pix Automático?

O Pix Automático permite agendar pagamentos que se repetem, mensalidades, s, contas fixas, direto da conta bancária. Basta autorizar uma vez, e o valor será debitado automaticamente na data combinada. Isso sem precisar emitir boleto, sem escanear código, sem digitar dados de cartão, e sem contar com a sua memória sobrecarregada.

Funciona de três formas principais:

  • Notificação no app do banco: você recebe um pedido de autorização. Confere o valor, periodicidade, nome do recebedor e data de débito. Aprova com um toque e segue a vida.

  • Confirmação via site: no próprio site da empresa (streaming, escola, clube), você escolhe pagar via Pix Automático e autoriza o banco pelo app.

  • QR Code ou Pix Copia e Cola: até o bom e velho QR Code agora pode incluir o pedido de autorização para pagamentos recorrentes.

Tudo sob o seu controle: o usuário pode cancelar a qualquer momento, ajustar valores ou parar os débitos. É automatizado, mas não é um contrato vitalício.

Mas e se não tiver dinheiro na conta?

Simples: o pagamento não acontece, mas o banco pode tentar diversas vezes antes de notificar a empresa ou prestador de serviço. E aí o serviço pode ser cortado, como já acontece com cartão recusado ou boleto vencido. Pode ser que o seu banco autorize o pagamento e você fique com saldo negativo.

Em alguns casos, se você autorizou o uso do Open Finance, o sistema pode buscar o valor em outra conta sua. Mas só se você tiver dado permissão clara. O Pix não vai sair caçando dinheiro por aí sem seu consentimento.

Ah, e diferente do cartão de crédito, o Pix não te afunda no rotativo. Se não tem saldo, não paga. Melhor lidar com uma interrupção de serviço do que com uma fatura que vira bola de neve.

Pix Automático vs. Cartão de Crédito: 

O cartão é prático? Sim, mas também é uma armadilha ambulante. Cobra taxa de anuidade, IOF, juros altíssimos e ainda faz parecer que parcelar em 12 vezes é “vantagem”.

O Pix Automático, por outro lado, é transparente. O dinheiro sai da conta, e pronto. Sem crédito ilusório, sem enganar o cérebro com a falsa sensação de que você está “ganhando milhas” enquanto perde o controle.

E para os comércios? Aqui a disputa fica ainda mais interessante. As maquininhas de cartão comem até 5% do valor da venda, além de exigir prazo de 30 dias pra liberar o dinheiro. 

Já o Pix cai na hora e, com a versão automática, pode manter o fluxo de caixa rodando sem dor, então se você é dono de uma academia por exemplo, só precisa se preocupar se o aluno pagou a mensalidade ou se anda treinando sem pagar…

E o boleto, coitado?

Durante anos, o boleto foi rei no Brasil. Um sistema meio jurássico, mas funcional, até certo ponto. Ele custa para a empresa, pode ser esquecido facilmente, gerando frustração em todo mundo.

Já o DDA (Débito Direto Autorizado) tentou modernizar o processo, mas continua engessado. Tem custo, depende de convênio entre banco e empresa, e quase ninguém entende como funciona. Parece até que foi feito pra não pegar.

O Pix Automático chega com uma promessa mais democrática. Pequenos negócios, autônomos, escolas de bairro, academias e até a associação atlética que precisa pagar o Canva para fazer artes, todos podem aderir. Sem precisar negociar com banco, sem pagar caro por boleto ou ficar na mão do débito automático.

O que esperam do Pix Automático? Menos inadimplência, mais organização

Segundo estimativas do Itaú, o Pix Automático pode reduzir a inadimplência em até 30%. Isso porque grande parte dos atrasos não é por má fé, e sim por puro esquecimento. 

Com a cobrança programada, sem depender de ir lá pagar todo mês, o pagamento se torna mais fluido e o risco de calote diminui. Bom, isso no papel, mas será que na prática vai ser assim mesmo?

Porque agendar é ótimo... se tiver dinheiro na conta. Senão, o que muda é só o momento da frustração: em vez de esquecer de pagar, agora a pessoa é lembrada pelo app que o débito falhou.

Reduz a inadimplência? Talvez. Desde que o Pix não vire apenas um lembrete mais educado da falta de saldo.

Agenda e esquece, mas não se empolga demais…

Antes de sair autorizando todo mundo a debitar da sua conta, respira. O Pix Automático é seguro, sim, desde que você esteja atento. Golpes ainda existem: um link falso, um QR code suspeito, e pronto você pode estar assinando algo que não queria.

O sistema exige atenção na hora de autorizar: confira nome da empresa, valor e data. Porque depois de aprovado, ele vai continuar debitando até você cancelar.

Conclusão: menos oba-oba, mais utilidade

Não, o Pix Automático não vai reinventar o capitalismo. Não é uma nova fonte de energia limpa. E nem vai salvar sua vida financeira se você continuar assinando 12 plataformas de streaming e esquecendo de cancelar metade. 

Mas ele resolve uma dor, principalmente de quem vende. Até hoje, uma academia de bairro ou um prestador de serviço autônomo precisava pagar caro pra usar plataformas de pagamento que aceitassem cartão. Taxas altas, burocracia e, às vezes, ter que ficar cobrando seu cliente antes do treino.

Para quem paga, é menos dor de cabeça. Para quem recebe, é menos inadimplência e menos custo com boleto e maquininha (que estava embutido no preço do serviço). 

Não é revolução, é evolução. E, sinceramente, já era hora.

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